domingo, 12 de setembro de 2010

Quem é o Artista Cristão?

Perguntas nem sempre são boas maneiras de iniciar um diálogo. Ainda mais numa época em que as palavras perderam sua essência. Mas o título deste artigo pretende tão somente levá-lo a uma reflexão: Quem é o artista cristão? Em tempos de cristianismo liberal, em certo momento fácil e barato, quem é o artista cristão? Antes de tudo é ele uma pessoa como outra qualquer_ não deixe que as palavras percam o sentido e não entenda de forma pejorativa. O artista cristão é parte de uma raça, de uma sociedade, de uma família. Ele é um Ser criado por Deus (Gênesis 1.26). Assim, o artista cristão está inserido na cadeia de mudanças ocorridas ao longo da história. Sendo capaz de produzir obras contextualizadas com sua época. É ele um agente da história. Na história da humanidade a figura do artista, enquanto ser social ocupa vários papéis. Desde a pré-história, quando a arte apresentava um caráter mágico, o artista desempenha uma função específica. É ele um produtor de elementos sociais_ no caso, símbolos e representações. Naquela comunidade rupestre o artista era responsável, em certa medida, pela subsistência de seu povo. Somente após a representação pictórica do desenho nas rochas é que eles saiam à caça. Acreditavam que o desenho facilitaria na obtenção de alimento. Vindo as primeiras civilizações, com os mesopotâmicos, esse artista é incumbido de deixar registrada a história por meio das primeiras “letras” cuneiformes. No Egito, apesar da imobilidade de uma arte voltada para o pós-morte, aquele artista equacionou problemas, até então intransponíveis, como no caso das pirâmides. Desde os gregos, com sua arte essencialmente simétrica e ávida pela beleza corporal, os artistas percorreram um longo caminho que culminou com o Renascimento, passando antes pela tensão medieval quanto a um Deus justiceiro. Durante este trajeto ele deixou para trás um trabalho coletivo de produção artística para priorizar uma criação mais individual. É a partir de Giotto, Da Vinci e Michelangelo que os artistas passam a assinar suas criações. Antes, o trabalho artístico era uma produção coletiva em oficinas e ateliês, regidos por padrões pré-estabelecidos. O Renascimento causou uma reviravolta na história da arte que resultou numa dualidade que marcaria para sempre o perfil do artista. Quando o artista passa a assinar suas obras também tem início o comércio de arte. Ainda de forma velada, sob a demanda dos mecenas, espécie de patrocinadores que bancavam o artista durante a produção de uma obra. A Igreja da época foi um desses mecenas. Com a ascensão da burguesia, o comércio de arte é intensificado. A obra sai do circuito eclesiástico e começa a adquirir forma de “produto”. A arte torna-se vendável e confere status a quem “investe” nela. Eis o dualismo: a liberdade advinda com o lucro da venda das obras conflita com a exploração decorrente do mercado de arte. Afinal, em se tratando de lucros, sempre há exploração. São os indícios de uma produção voltada para um público e não mais unicamente por instintos artísticos. Esse dualismo vai culminar com a chegada da Arte Moderna. Quando os artistas do Impressionismo, em fins do século XIX, resolvem abolir a linha de suas pinturas, o que sobra é uma completa falta de limites para a criação artística. Com os padrões clássicos de arte vão o bom senso e o equilíbrio. O mercado, disfarçado de crítica de arte, atesta qualquer novidade como sendo de valor artístico. Agora, basta que o artista produza algo novo e “original” para aquilo passe a “valer ouro”_ por vezes, literalmente. O poeta e crítico de arte Ferreira Gullar vai dizer que qualquer lixo pode virar arte por ordem da “ditadura da novidade”. O artista não é mais um criador e sim, um inventor. No entanto, uma visão mais apurada é capaz de perceber que o problema é mais sério. Essa arte que se vale do estranhamento e do choque (O que você sentiria se chegasse num museu e encontrasse um tubarão mergulhado em um tanque de formol?) é simplesmente o reflexo da perda de identidade por parte desse artista que a produziu. Não uma perda de identidade quanto ao nome, sobrenome e número registrado num pedaço de papel, mas sim, aquela imagem e semelhança de Deus ofuscada pelo pecado. O artista responsável por produzir cultura tem emitido gritos de desespero por meio de suas obras. Ele tem tentado desesperadamente se reconhecer através de suas criações artísticas. Mais que artista, ele quer voltar a ser Homem! Nesse contexto histórico é que o homem se faz artista. É aqui que se faz importante o artista cristão revelar a sua identidade. Contextualizado com seu tempo, ele pode estabelecer a si próprio e sua obra como referenciais num mundo em crise. As pessoas poderão olhar para suas obras e perguntar: “Que significam essas pedras?”_ Josué 4.21. O artista cristão faz da sua obra um pretexto para falar de Deus (“Para que todos os povos da terra conheçam que a mão do Senhor é forte”_ Josué 4.24). A obra de arte também pode dizer muito de quem a fez. Sendo assim, certamente, depois de olhar tais obras, a pergunta seguinte é inevitável: Quem a produziu? A resposta: É uma obra assinada por um artista cristão! Quem é o artista cristão? O artista cristão é alguém chamado por Deus (“Eis que chamei (Deus) pelo nome a Bezalel”_ Êxodo 31.2). O Senhor conhece-o pelo nome e sabe de suas potencialidades. Aceitar o chamado é estabelecer um compromisso. Uma aliança onde Deus é o mais forte. O artista consciente de sua opção não confia em si mesmo. Ele sabe que depende de Deus (“E o enchi do Espírito de Deus, de habilidade, de inteligência, e de conhecimento”_ Êxodo 31.3). Entende que seu caráter é moldado por Deus. No entanto, sabe também que é um agente da história: “Para elaborar desenhos”_ Êxodo 31.4. As qualidades recebidas de Deus precisam ser desenvolvidas e postas em prática. O verbo “elaborar” indica uma ação que deve ser executada por aquele chamado ao ministério artístico. Por fim, o artista cristão é aquele que sabe trabalhar em equipe (“Eis que lhe dei por companheiro a Aoliabe”_ Êxodo 31.6). O artista que aplica tais ensinamentos bíblicos em sua carreira poderá ser chamado verdadeiramente de cristão. Marcelo Amaral Postado originalmente no site da JUBERJ.

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